A saúde do coração é um assunto que precisa de cada vez mais atenção das mulheres e da comunidade médica. Em média, uma brasileira morre por consequência de uma doença cardiovascular a cada seis minutos, sendo que essas enfermidades – incluindo o infarto e o AVC – matam mais as mulheres do que todos os tipos de câncer somados.
É justamente por esse cenário que o curso preparatório médico está dando mais atenção para a saúde cardiovascular das mulheres, assunto que também preocupa a Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC). Em 2022, a instituição produziu um documento alertando a comunidade médica sobre o cenário atual, propondo também a adoção de medidas para reduzir a mortalidade feminina causada por doenças cardiovasculares em 30% até 2030.
A questão é ainda mais alarmante pelo fato de que, proporcionalmente, quando se considera todas as causas de morte, as doenças do coração têm índice maior nas mulheres do que nos homens. No Brasil, essa taxa entre elas era de 30,4% contra 26,4% entre eles, segundo dados de 2019. E a situação é ainda mais crítica, pois além de afetar as mulheres no pós-menopausa, houve o crescimento de casos também entre as mais jovens.
Fatores de risco
Existem uma série de fatores de risco que colaboram para o desenvolvimento das doenças cardiovasculares. Alguns deles são mais conhecidos, sendo um risco tanto para homens quanto mulheres: obesidade, diabetes, hipertensão, tabagismo, sedentarismo e altos níveis de gordura no sangue são exemplos clássicos em quadros como esse.
Contudo, especialistas destacam a necessidade de também checar fatores de riscos específicos das mulheres, que recebem influencia muito importante dos hormônios das mulheres. Eles são capazes de agir em diversos receptores em que a testosterona não funciona, sendo que o estresse nelas leva a maior taxa de taquicardia e consumo de oxigênio.
Por um lado, os médicos explicam que as mulheres não apresentam muitas doenças obstrutivas crônicas. Entretanto, elas têm mais casos de disfunção endotelial, que é a membrana que reveste os vasos sanguíneos e parte do coração. Ou seja, o órgão fica mais suscetível a ter problemas.
Outro ponto distinto entre mulheres e homens é que as coronárias, que são as artérias que nutrem o músculo cardíaco, das mulheres são mais finas. Isso contribui para elevar a tendência de bloqueios arteriais. A menopausa, que costuma acontecer a partir dos 45 anos, faz com que seja produzido menos estrogênio no organismo, retirando assim uma proteção natural do coração.
É preciso alertar as mulheres também para aspectos mais sutis que podem contribuir para o surgimento de uma doença no coração. O acúmulo de estresse e o burnout são dois desses fatores negativos, pois além de envolver questões do trabalho, há também uma sobrecarga frequente ligada ao papel feminino na sociedade, sobretudo de cuidar da família e da própria imagem, pressionando e estressando ainda mais elas.
A própria desigualdade social não pode ser ignorada. Uma estimativa da SBC mostra que metade da mortalidade causada por doenças cardiovasculares antes dos 65 anos de idade está ligada a desigualdades sociais. Isso inclui os fatores citados como tabagismo e álcool em excesso, além de outros como alimentação inadequada, dificuldade no acesso à saúde (e exames preventivos), instabilidade econômica e falta de suporte social.
Importância do diagnóstico
Uma das formas de reverter esse cenário é conscientizar as mulheres sobre a importância de realizar, com regularidades, os exames periódicos e de prevenção de doenças como câncer de útero e mama. Muitas mortes acontecem porque tanto as mulheres são subtratadas e subdiagnosticadas, como também, em vários outros casos, elas ignoram os sintomas e não procuram a assistência médica.
Medidas públicas também podem colaborar para diminuir a prevalência desses casos. Um dos caminhos recomendados é a inclusão de indicadores de saúde cardiovascular em programas de Assistência Primário à Saúde (APS), cobrindo tanto o atendimento pré-natal quanto a transição da menopausa.
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